28/11/2012

Insónia

Hoje tive um daqueles longos monólogos com o espelho, em que ele me respondia a perguntas retóricas e eu o mandava calar: foi uma conversa curta e directa em que discutimos a origem da utopia das utopias, a anatomia do pensamento e a fisiologia da representação.
Porém, acabámos a fingir que o mundo era como os filmes antigos, a tons de preto e branco sem as nuances de cinzento, onde as mulas não eram híbridos e tudo era comestível.
Odeio estas pseudo-realidades que posso inventar com um toque de um dedo numa qualquer superfície. Aquilo que gasto para o mexer deixa-me as entranhas desgastadas e tenho que tomar mais café.
Durante todo este microsegundo que durou quase delírio senti-me como um míope que momentaneamente viu claramente o horizonte, contudo as lentes impediram-me de ver focado e acabei por ver tudo esbatido.
O irónico no meio disto tudo é que tinha quase a certeza que não me vi ao espelho hoje.
E não vi mesmo.

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