Hoje tive um daqueles longos monólogos com o espelho, em que ele me respondia a perguntas retóricas e eu o mandava calar: foi uma conversa curta e directa em que discutimos a origem da utopia das utopias, a anatomia do pensamento e a fisiologia da representação.
Porém, acabámos a fingir que o mundo era como os filmes antigos, a tons de preto e branco sem as nuances de cinzento, onde as mulas não eram híbridos e tudo era comestível.
Odeio estas pseudo-realidades que posso inventar com um toque de um dedo numa qualquer superfície. Aquilo que gasto para o mexer deixa-me as entranhas desgastadas e tenho que tomar mais café.
Durante todo este microsegundo que durou quase delírio senti-me como um míope que momentaneamente viu claramente o horizonte, contudo as lentes impediram-me de ver focado e acabei por ver tudo esbatido.
O irónico no meio disto tudo é que tinha quase a certeza que não me vi ao espelho hoje.
E não vi mesmo.
O Pseudónimo
Porque cada pensamento é anónimo, assim como cada humano que possui alma e capacidade de pensar tem o direito e a opção de o ser.
28/11/2012
24/09/2012
Blue Eyes
Deixei-me ir, fugiu-me o coração por entre os dedos.
Troca injusta esta, de te ter a meu lado, a olhar-me com esse olhar de mar (e tu sabes o quando eu amo o mar), enquanto seguras o que me faz correr o sangue nas veias.
Mas não quero mais nada.
Quero perder-me nessas ondas, quero que me prendas nelas.
É o vício de me afogar em ti enquanto respiro.
Sim, dá-me isso e eu dou-te o resto.
Amo-te.
09/07/2012
Formigueiro
Somos pequenas formigas num grande formigueiro.
Pequenas e alvoraçadas,
Se o açúcar não nos chega
Até que o Inverno se dê às entradas.
Não paramos pelo dourado mel do Sol,
Nem pela percussão da chuva
Saboreamos pouco o calor da Lua
Quando cheia banha, de luz,
A rua.
Corremos, trabalhadoras!
Fugimos,
Amedrontadas que o Mundo nos mate
Mas encarregamo-nos de matar o Mundo.
Mas para que é que tudo isso nos interessa?
Somos formigas demasiado ocupadas.
Pequenas e alvoraçadas,
Se o açúcar não nos chega
Até que o Inverno se dê às entradas.
Não paramos pelo dourado mel do Sol,
Nem pela percussão da chuva
Saboreamos pouco o calor da Lua
Quando cheia banha, de luz,
A rua.
Corremos, trabalhadoras!
Fugimos,
Amedrontadas que o Mundo nos mate
Mas encarregamo-nos de matar o Mundo.
Mas para que é que tudo isso nos interessa?
Somos formigas demasiado ocupadas.
14/03/2012
Bagagem Emocional
Como frágeis criaturas que somos, temos mais facilidade em sucumbir às derrotas do que temos em celebrar as vitórias, tornando-as num estímulo.
Gastamos e desgastamos a nossa cabeça com pensamentos derrotistas e previsões negativas.
Mas não é por mal. Isto já há muito tempo deixou de ser defeito para dar lugar ao feitio.
Todos nós conhecemos pessoas com bagagem emocional, todos nós a carregamos. É bom sinal, quer dizer que aceitámos carregar esse fardo ao longo da vida em vez de deixarmos que esse peso nos impedisse de continuar.
São esses os que prevalecem, esses que perderam inúmeras batalhas mas que se recusam a perder a guerra. Aqueles que negaram o medo e abraçaram o desconhecido como um velho amigo.
Neste caso, já serão outras criaturas, que aproveitaram as fragilidades como meio para o crescimento pessoal.
Gastamos e desgastamos a nossa cabeça com pensamentos derrotistas e previsões negativas.
Mas não é por mal. Isto já há muito tempo deixou de ser defeito para dar lugar ao feitio.
Todos nós conhecemos pessoas com bagagem emocional, todos nós a carregamos. É bom sinal, quer dizer que aceitámos carregar esse fardo ao longo da vida em vez de deixarmos que esse peso nos impedisse de continuar.
São esses os que prevalecem, esses que perderam inúmeras batalhas mas que se recusam a perder a guerra. Aqueles que negaram o medo e abraçaram o desconhecido como um velho amigo.
Neste caso, já serão outras criaturas, que aproveitaram as fragilidades como meio para o crescimento pessoal.
19/02/2012
Uma Questão de Física
Se pudesse fazer do mundo uma estrela.
E da estrela um neutrino.
Transformar o ser
Em matéria.
Ver cada um na sua forma mais desnuda
E incompleta.
Talvez fosse capaz de ver,
Da maneira mais discreta
O que faz de nós humanos...
Quando o que somos é tão pequeno,
E o que sentimos tão incerto.
E da estrela um neutrino.
Transformar o ser
Em matéria.
Ver cada um na sua forma mais desnuda
E incompleta.
Talvez fosse capaz de ver,
Da maneira mais discreta
O que faz de nós humanos...
Quando o que somos é tão pequeno,
E o que sentimos tão incerto.
31/01/2012
Estrelas Cadentes
Até quando é que nos podemos deixar levar por estrelas cadentes? A partir de que momento é que paramos de acreditar que os milagres existem e que os nossos sonhos poder-se-ão concretizar?
Chega o dia em que o acaso, as divindades, em que seja que acreditamos, não passam de simples amigos imaginários que nos deram a ideia de que o mundo era justo e que as coisas podiam acontecer, sem uma atitude pro-activa, de acordo com a nossa presença moral: pendendo para um lado ou para o outro.
E quando esse dia chega, sabemos que os nosso desejos mais íntimos não passam de sonhos, fotografias escondidas na gaveta.
Mas o incrível relacionado com o humano é a esperança.
Em que, à noite, mesmo sabendo do impossível, quando estamos a olhar para o céu e um ponto brilhante o atravessa, fechamos os olhos e pedimos à sorte que o concretize.
Chega o dia em que o acaso, as divindades, em que seja que acreditamos, não passam de simples amigos imaginários que nos deram a ideia de que o mundo era justo e que as coisas podiam acontecer, sem uma atitude pro-activa, de acordo com a nossa presença moral: pendendo para um lado ou para o outro.
E quando esse dia chega, sabemos que os nosso desejos mais íntimos não passam de sonhos, fotografias escondidas na gaveta.
Mas o incrível relacionado com o humano é a esperança.
Em que, à noite, mesmo sabendo do impossível, quando estamos a olhar para o céu e um ponto brilhante o atravessa, fechamos os olhos e pedimos à sorte que o concretize.
21/01/2012
Eu Fui
Dói mais voltar atrás do que eu pensava.
Esta coisa de ir remexer em feridas antigas é quase tão doloroso como quando estas foram infligidas pela primeira vez.
Apesar das memórias ficarem, as realidades mudam e aquilo que antes acreditavam-se serem dogmas, mais que reconhecidos, são agora postos em questão, acabando por não ser mais que mentiras. E, por mais que queiramos, rever o passados faz-nos questionar decisões tomadas na altura: cada erro, cada atitude, cada mergulho no escuro.
Pensamos: "e se?"
Podemos até nem pensar nisso durante algum tempo, mas eventualmente virá o dia em que, no leito quase dormente da nossa almofada, revemos cada glimpse do passado que tivemos, cada microsegundo das lembranças que agora não passam de mais um fantasma extraviado que veio assombrar os nossos presentes pensamentos. Enquanto que na altura nem pensámos que poderiam vir a ser futuros fantasmas.
Acontece.
Mesmo depois de sabermos que o passado pertence a si mesmo, à excepção de quando no ensina para o futuro.
E fica-nos o verbo no Passado Imperfeito: eu fui.
Esta coisa de ir remexer em feridas antigas é quase tão doloroso como quando estas foram infligidas pela primeira vez.
Apesar das memórias ficarem, as realidades mudam e aquilo que antes acreditavam-se serem dogmas, mais que reconhecidos, são agora postos em questão, acabando por não ser mais que mentiras. E, por mais que queiramos, rever o passados faz-nos questionar decisões tomadas na altura: cada erro, cada atitude, cada mergulho no escuro.
Pensamos: "e se?"
Podemos até nem pensar nisso durante algum tempo, mas eventualmente virá o dia em que, no leito quase dormente da nossa almofada, revemos cada glimpse do passado que tivemos, cada microsegundo das lembranças que agora não passam de mais um fantasma extraviado que veio assombrar os nossos presentes pensamentos. Enquanto que na altura nem pensámos que poderiam vir a ser futuros fantasmas.
Acontece.
Mesmo depois de sabermos que o passado pertence a si mesmo, à excepção de quando no ensina para o futuro.
E fica-nos o verbo no Passado Imperfeito: eu fui.
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