14/12/2009

Gota Derramada

Há noites em que me vejo deitada a olhar para o vazio, quando de repente, eis o que vejo!  Uma pequena gotícula salgada que me corre na cara caindo graciosa e silenciosa na minha almofada.
Pequena fugitiva, saída dos meus olhos.
Um pequeno eu, sozinha, transparente, caída que acaba por desaparecer.
Sinto-me abandonada à minha própria mercê, à mercê do meu próprio sofrimento mudo, mas não surdo, não cego. Quem me dera a mim que fosse cego! Não via mais, não sentia mais.
Perdida também me encontro, perdida na minha própria melancolia, que se tornou demasiado grande e densa para me encontrar sem um guia.
Afogada em mágoa, que foi enchendo e enchendo enquanto que o escoamento se mantinha entupido.
Permito-me por momentos deixar-me pensar, embora sabendo o preço que pago por tal ousadia, preço alto, sem sombra de dúvida.
E lá vou eu com a gota, sabendo lá onde me leva, quando pararei, como o farei ou mesmo se pararei de descer e descer e descer, sem nunca bater no fundo, nunca sabendo quando acabará ou se acabará.

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