06/12/2009

Parece-me familiar...

"Mas os companheiros trocaram palavras uns com os outros,
dizendo que eu [Ulisses] trazia para casa ouro e prata, (...):

'Como ele é estimado e honrado entre todos os homens,
seja qual for a terra que aporta!
De Tróia traz os mais finos tesouros,
ao passo que nós, que fizemos a mesma viagem,
regressamos a casa de mãos vazias.
E agora Éolo lhe deu estes presentes, por amizade:
vejamos rapidamente o que são,
que quantidade de ouro e prata há no saco.'

Assim falaram e prevaleceram os maus concelhos.
(...) Pela minha parte
acordei e reflecti no meu nobre coração
se haveria de me lançar da nau para me afogar no mar,
ou aguentar em silêncio, permanecendo entre os vivos.
Mas aguentei e permaneci; cobrindo a cabeça, deitei-me
no convés. (...)"

Homero - Odisseia, Canto X

Ao ler semelhante passagem lembrei-me quase imediatamente da minha situação numa das minhas aulas de Inglês, ouvindo falarem de mim como se ali não estivessem.
"Palavras apetrechadas de asas", diria Homero, era o que diziam, enquanto eu, no meu canto lutava por manter uma expressão facial de quem não se deixava afectar, enquanto que cá dentro tudo doía.
Nunca imaginei que me identificaria tanto a Ulisses, não desta forma.
E todos os dias oiço de "companheiros(as)" coisas que não são capazes de me dizer.
Poderá ser inveja, ou ser apenas ódio por odiar, ou apenas porque podem.
Eu em silêncio aguento e resguardo-me dentro de mim própria, onde ninguém pode chegar.

E agora vejo que a arte do maldizer mantém-se e é aperfeiçoada cada dia, todos os dias por todos.

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