14/08/2010

Silêncio...naquele quarto.

Habituei-me a ver o quarto ocupado pelos sons, pelas pessoas.
Acostumei-me ao frenezim, ao stress, às preocupações, às medidas tomadas, à rotina adoptada.
O barulho do oxigénio e os chamamentos já faziam parte do meu dia-a-dia.
Depois de algum tempo tinha a sua piada o contar comprimidos.
Durante algum tempo houve gozo, houve brincadeira, houve a melhor maneira de a fazer sentir em casa.
Houve gritos, meus, injustos, mas houve. Houve compreensão, a custo. Houve conversas agradáveis.
Mas chegou a semana, esta semana, os gritos já não eram meus, as conversas já não eram comigo, não eram com ninguém, peguei-lhe na mão e ela acalmou, não sei se por causa de mim, se por causa do sedativo. Já não comia e levaram-na daqui.
Roubei as luvas do hospital, adormeci a seu lado e toquei-lhe na mão.
De manhã, o alívio. Agora a dor. Amanhã, talvez, o alívio.
Silêncio...naquele quarto. Num quarto adormecido onde existe o ir e o voltar. O ir.
O voltar no coração.

1 comentário:

m disse...

Se te agarrares, agarra-te ás memórias boas e ao sentimento de que a sua essência jamais desaparecerá enquanto viveres. Porque a levas sempre contigo. Foi algo mau bom complexo que cada vez tenho mais a certeza de que não terminou. i'm with you in this.

beijo fofinha